Caipira no consultório

O caipira entra no consultório, desconfiado, com aquele jeitão que mistura timidez e resignação:

– Dotô, o negócio não sobe mais. Já tomei tudo quanto foi chá de pranta, mas num dá jeito não. Tá morto, enterrado e sem reza que resolva.

O médico, tentando segurar a compostura, responde com profissionalismo:
– Ah, meu amigo, isso tem solução. Vou te passar um medicamento. São cinquenta comprimidos, um por dia. Até terminar o tratamento, você vai estar novo em folha.

O caipira coça a cabeça, já complicando a logística mental:
– Mais, dotô, eu sou um home simpres da roça. Só sei contá até dez, e isso usando os dedo. Depois disso, me perco.

– Sem problema. Compra um caderno de cinquenta folhas. Cada folha é um comprimido. Quando acabar o caderno, o tratamento tá completo. Fácil, né? Toma aqui a receita.

Satisfeito com a explicação, o caipira agradece:
– Brigado, dotô. Vou já comprá o tal caderno.

Mal sai do consultório e dá de cara com uma papelaria na esquina. “Uai, Deus ajuda mesmo quem precisa”, pensa ele. Entra, e a atendente, toda sorridente, se aproxima:
– Pois não, senhor?

– Eu pricisava de um caderno de cinquenta fôia.

A moça, no automático, pergunta:
– É brochura?

O caipira fica roxo na hora, dá dois passos pra trás e solta, indignado:
– Ahhh, médico fio duma égua! Já andou espaiando meu pobrema pros outro?!