Carta de uma mãe loira (portuguesa)

carta de portuguesa

Meu querido filho,

Escrevo essas poucas linhas só pra garantir que você ainda sabe que eu estou viva. Porque, afinal, quem não é visto… não recebe cartas.

Estou escrevendo devagar porque conheço bem o tipo de leitor que você é: ansioso pra ver onde a coisa vai dar, mas sem pressa nenhuma pra chegar lá. Se você recebeu essa carta, é porque ela chegou. Caso contrário, me avise logo que mando outra. Afinal, tempo é o que não falta… pelo menos pra mim.

Teu pai, sempre um gênio, leu no jornal que a maioria dos acidentes acontece a 1 km de casa. Decidimos, então, tomar providências drásticas: mudamos para bem mais longe. Agora, se algo acontecer, pelo menos não vão poder dizer que fomos imprudentes.

Sobre o casaco que você queria – aquele que pesa mais que um saco de cimento –, o teu tio resolveu que seria caro demais mandar pelo correio por conta dos botões de ferro. Como sou uma pessoa prática, arranquei os botões e coloquei-os no bolso. Quando o casaco chegar, pode se preparar pra um “faça você mesmo”: pregue tudo de volta. É quase uma terapia, dizem.

Aqui em casa, o cotidiano anda bem… explosivo. Outro dia, o botijão de gás resolveu dar um show e explodiu na cozinha. Teu pai e eu fomos lançados pelo ar feito fogos de artifício e caímos no quintal. Pode parecer trágico, mas pensa só: foi a primeira vez em anos que nós dois saímos de casa juntos. Só faltou um jantar romântico depois.

Quanto ao nosso cachorro, o Joli, ele anda meio “desmontado”. Foi atropelado, coitado, e o veterinário teve que cortar o rabo. Não se assuste se ele parecer mais curto da próxima vez que o vir. E, por favor, cuidado com a rua. Parece que isso anda na família.

Mudando de assunto, a tua irmã Laura está esperando um bebê. Só não sabemos ainda se vai ser menino ou menina. Isso faz de você um tio ou uma tia em potencial. O suspense, por enquanto, está mantido.

E pra fechar, teu irmão Marcos, sempre surpreendendo, conseguiu a proeza de trancar as chaves dentro do carro. Precisei ir em casa buscar a reserva pra abrir a porta. Pelo menos cheguei antes da chuva, porque a capota estava arriada. Esse povo daqui de casa não sabe mesmo viver sem emoção.

Se encontrar a Dona Esmeralda, dê lembranças minhas. Caso contrário, não fale nada – afinal, não queremos desperdiçar cumprimentos.

Um beijo,
Tua mãe Mariana

PS: Ah, sobre os 300 reais que você pediu… eu juro que ia mandar. Mas, no momento em que me lembrei, o envelope já estava fechado 

loira

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