Sexo: você está fazendo certo?
SEXO: Você está fazendo certo ou errado?
E se eu disser que se você nunca experimentou nada além de penetração ou um oral “meia-boca” — sem passear a língua direito —, que se nunca gozou sem se tocar, ser tocado ou sem tirar a roupa, podem ser indícios de que talvez você esteja vivenciando o sexo de forma super limitada?
SEXO ERRADO
Me forço a raciocinar que não, mas parece aumentar o número de gente pregando no que chamo de “Culto do Pênis”, uma armadilha montada há gerações que ainda afeta nossa maneira de aproveitar a sexualidade. É cheia de afirmações acerca do sexo com finalidade limitada de penetrar e gozar, o tamanho da baqueta e a negação de a transa receber seu devido título de transa sem ninguém esporrar ou abaixar as roupas — pois transa, para mim e muitos, começa bem antes da camisa voar pra longe.
Podar possibilidades sexuais é dar um tiro no próprio pé, pois passamos a viver na ignorância de práticas perfeitas para diferentes situações — não só rotineiras e sacanas, mas emocionais — que podem se estender a longas sessões de “terapia corporal” e aperfeiçoar a qualidade do que é feito, não apenas a quantidade.
Crescendo como gouine — quem não curte muita penetração, hétero ou homo, ativa ou passiva — me identifiquei com o arquétipo da mulher por todo meu desenvolvimento sexual. Colocadas erroneamente como criaturas de pouco apetite carnal, estão tão condicionadas quanto eles, que vivem a reproduzir o culto do enfia-tira-repete-goza, e deixam de satisfazer essas mulheres — que por sua vez demonstram menos interesse no sexo repetitivo, mal-feito e egoísta dado pela maioria.
Ou seja, além de serem vítimas ainda mais machucadas pelo machismo — porquetodo mundo se machuca com machismo, em diversos níveis —, as mulheres, que pouco têm direito de viver uma identidade sexual, ainda são azaradas o suficiente por cruzarem com caras que estão muito mais preocupados com a rigidez do próprio pinto do que com a qualidade do prazer mútuo.
Assim elas se obrigam a se encaixar nesse molde para tirar algum proveito da situação no estilo “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, e eles se sentem pressionados a serem os fodões comedores, gerando um ciclo de insatisfações e repressões sexuais que encontram voz em atitudes hiperssexualizadas, exageradas e separatistas.
Essa norma também afeta homossexuais, pois mesmo com condição sexualdiferente, ainda são homens e mulheres — por isso vemos direitos lésbicos atrás dos direitos gays masculinos e a insistente heteronormatividade decidindo através da prática sexual quem dentre os gays é mais gay por dar a bunda, por exemplo.
SEXO CERTO
Já sentiu tesão com a exploração do corpo? Mesmo que não esteja dentro dos padrões estéticos da perfeição — que são inalcançáveis — você já teve vontade de gozar pelo envolvimento total do seu corpo e mente com outros corpos e mentes, não dependendo apenas de pau, pepeca, peitos enormes ou bumbunzinho?
Tentando me respeitar como gouine, entendi que sexo não precisa ser (e fica milhões de vezes melhor se não for) somente acerca de penetração ou jatos de esperma sobre estereótipos datados. Sexo bom não é encaixotado no que deveria funcionar “pronto” para todo mundo. Sexo é diálogo extremamente íntimo entre os envolvidos, que não precisa ser falso-moralista ou exposto a terceiros — a não ser que faça parte da fantasia e seja consensual!
Comparecendo menos às reuniões do “Culto do Pênis” — que não precisam ser abandonadas se cultuar igualmente outras partes do corpo e de quem o divide contigo —, você sente prazer ao oferecer prazer. Não se engane, pois há egoísmo o tempo todo: é seu prazer que vale, mesmo quando feito pelo outro.
Mas há respeito, atenção e curiosidade para saber como o outro funciona, até onde você vai e quais serão as novas posições ou modalidades para se divertir durante o prazer no próximo final de semana.
Deixe para focar no puro gozo (mútuo, de preferência) depois que descobrir, redescobrir, inventar e reinventar a mitologia do corpo de quem se deita com você — ou se amarra, fica de pé, senta, quica e por aí vamos…
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